O Outono chegou de manso, tranquilo
a desnudar o arvoredo,
espargindo de ouro e cobre chão e almas.
E ela com ele tornou, com o ar inevitável que lhe conhecia,
os passos a mando de um ciclo ou destino
como se um só fossem
Da minha janela, acostumei-me a ela assim, queda,
qual tela em cada Outono.
Era ainda uma mulher bela, beleza algo mágoa,
quase triste por se saber mulher talvez fosse.
De fixo, o olhar parecia tão acorrentado quanto livre,
e contudo não era silêncio o que a movia,
e eu juro que via,
torrentes de lava na palavra que não dizia.
Os lábios, ainda bonitos,
traziam marcas de outras bocas menos belas
que ainda mordiam.
Daqui, da minha janela, eu via.
Enxames de beijos perdidos daqueles lábios
vagamente bonitos.
E ela, saberia? Se soubesse, importaria?
Pareceu-me que não, tão só me parecia,
porque sorria.
À chuva como quem recebe um filho.
Ao vento, como quem oferecia
um corpo de fêmea vagamente bonito
ao lume da paixão, ao beijo da liberdade.
Abrigada, do lado de dentro da minha janela,
eu quase morria!
Ironia .
@utora: Over_the_Rainbow