Surgistes do nada sem ser esperado
Nessa espera tardia dos vencidos
E eu quis inventar-te logo ali
Na exacta medida do meu tempo
Em teu corpo latejante e destemido
Na tarde sóbria e soalheira desse Inverno
Pressenti a tempestade anunciada
No fogo do azul índigo, perturbante
Sorri, pretensiosa, ao teu olhar
E nele vi urze, sol e cotovias
Sem cuidar que dos acasos somos cúmplices
E nas escolhas condenados sem grilhetas
Antevi a tua boca sussurrante,
Em queda livre colar-se ao meu ouvido
Nesse breve entardecer em que os amantes
Premeiam a loucura e os sentidos
E no ardor da chama embriagante
Fostes abismo, delírio e fantasia
Devaneio em turbilhão que tudo arrasta
Desalinho intemporal que não resiste
Foi decerto arredio o nosso encontro
Mas de tão esquivo, profundo na estocada
Porque há sonhos insuspeitos à chegada
Cruéis como a noite mais gelada
@utora: Essa_Miúda - Outubro 2005